Lugar de Fala
Por Lavina Rodrigues
Publicado em 31/03/2023 10:53 - Atualizado em 03/04/2023 15:10
Sou Lavina, mulher, mulher preta, cabelos anelados na altura dos ombros, 1,65m, um pouquinho acima do peso, rsss, professora, mãe de três filhos, casada, filiada a UNEGRO, participo da Coletiva Feminista “As Luzias”. Já fui diretora de duas escolas, coordenadora do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos programa da Diretoria de Desenvolvimento Social e atualmente estou vereadora no município Lagoa Santa.
As reflexões que proponho nesse mês dedicado às mulheres faz referência “ao lugar de fala.” Qual é o meu lugar de fala? Qual é o seu lugar de fala? Como separar um lugar de fala do outro? Como pautar as especificidades de cada um?
Durante a campanha no ano de 2020 elaborei minhas propostas para o mandato de vereadora pautadas nos 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas globais interconectadas, a serem atingidos até 2030, definidas na Assembleia Geral das Nações Unidas, composta por 193 países. Dentre elas cito a ODS 5 – Igualdade de Gênero e a Meta 5.5: Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na esfera pública, em suas dimensões política e econômica, considerando as intersecções com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade, em especial para as mulheres e meninas do campo, da floresta, das águas e das periferias urbanas.
Venho neste momento desejar para nós muita resiliência e sabedoria em todas os momentos da nossa vida. O nosso dia a dia é um constante desafio. Que hoje possamos tirar um tempinho para refletirmos sobre o que já conseguimos e o que ainda continuaremos a buscar.
O meu lugar de fala enquanto mulher, mulher preta, de como é importante falar do nosso corpo, das mudanças pelas quais passamos nas fases da vida: de menina para adolescente, de adolescente para adulta, de adulta para a terceira idade, e toda complexidade envolvida nas fases da vida. Hormônios e a falta deles, sexualidade, saúde, autoestima, preconceito, padrão de beleza, cabelo anelado ou escovado, desigualdades.... E todos os desafios enfrentados pelas mulheres na atualidade.
Impossível não dar visibilidade e lugar de fala a todas as mulheres que fazem parte do universo e que muitas vezes são esquecidas e vivem na invisibilidade, à margem da sociedade. É extremamente necessário e urgente adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, para que todas se vejam representadas e tenham seus direitos assegurados em lei.
Penso nas benzedeiras, nas mães solo, nas mulheres em situação de rua, nas indígenas, ciganas, parteiras, donas de casa, que exercem as mais variadas profissões... e que contribuem com seus saberes para o desenvolvimento de nosso país.
E a maternidade? "Mãe", esse é um universo que só quem tem filho sabe. Aquela frase "Quando você tiver o seu vai ver que é verdade!" O quão profundo, quanto sofrimento e alegria misturados desde o momento que a nossa amiga (menstruação) falta ou desde a dúvida se ela virá ou não. A partir daí várias descobertas, surpresas e realizações que não cabem neste texto. E quando abrimos mão dos nossos sonhos pelos sonhos deles? Quando ao educar, nos policiamos, pois eles não nascem com manual de instrução, cada dia aprendemos com os mesmos.
A mulher que define não ter filhos, apresenta dificuldades para engravidar, ou decide ter filhos mais tarde para dedicar a sua carreira profissional a todo tempo é cobrada e julgada. Quais leis nos respaldam? E as mães com suas lutas com os filhos de inclusão? Quanta angústia e desafios tenho vivenciado neste município, na busca das mulheres pelos direitos dos seus filhos sem perderem a dignidade e a essência de ser mulher.
O meu lugar de fala da minha profissão: “Professora”, todas as profissões na mesma. Amo minha profissão, 27 anos atuando na área e hoje não tem como separar as lutas diárias da educação até porque somos indivíduos e não temos um monte de caixinhas. Sempre sonhei em ser professora e nesta experiência me reconheço enquanto mulher, mãe, amiga e várias... várias vezes psicóloga, sindicalista e diretora. Passa ano e sai ano e as lutas continuam. Neste lugar nem sempre reconhecido os profissionais da educação continuam sempre firmes no propósito de transformar vidas com força e dedicação.
E o lugar da esposa, da companheira, parceira quantos desafios nesse lugar: “mulher casada” comportada, ousada, dedicada preocupada, parceira e amiga. Mulher, quantas somos neste lugar de esposa? Quando finalmente nossos companheiros irão nos variolizar? É preciso reconhecer e identificar o que acontece nessa união o quanto isso interfere nas nossas ações fora e dentro de quatro paredes.
Quando a relação é saudável e podemos participar das decisões importantes da família e da vida financeira, mas, quando a violência invade os nossos lares e afeta a nossa saúde mental e física é preciso coragem para o enfrentamento desta situação. Buscar ajuda e acionar a rede de proteção do nosso município.
O lugar de fala da vereadora professora Lavina que não mede esforços para propor discussões, reuniões, projetos pois é urgente e necessário políticas públicas de qualidade para proteger nossas mulheres e meninas em todos os sentidos da palavra VIOLÊNCIA. Neste sentido, tenho trabalhado incansavelmente junto as duas mulheres vereadoras, que ocupam a bancada feminina no plenário da Câmara Municipal de Lagoa Santa; sempre contando com o apoio dos demais pares.
O mês de março nos remete a reflexão, que essa não se restrinja apenas ao dia 08 de cada ano e sim possa ser sentida em cada atitude, em cada lei proposta e sancionada, e daquelas leis que não saem do papel.
Contem sempre comigo para que a nossa luta possa SEMPRE salvar vidas.
#juntosejuntascomlavina
Lagoa Santa, 31 de março de 2023.
por ASCOM 2023